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jornaldodiaadia

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Europa ganha (por: Paul Krugman)

Tsipras e Syriza conquistaram uma grande vitória no referendo, ganhando força para o que quer que venha depois. Mas não são os únicos ganhadores: diria que a Europa, e o conceito de Europa, conseguiram uma grande vitória e se esquivaram de um tiro.

Sei que a maioria não pensa igual. Mas pensemos assim: acabamos de ver a Grécia se levantar contra uma campanha de assédio e intimidação, uma tentativa de colocar medo nos gregos não apenas para que aceitassem as exigências dos credores, mas também para que desfizessem do seu Governo. Foi um momento vergonhoso na história moderna da Europa e, caso tivesse prosperado, teria aberto um precedente feio.

Mas não prosperou. Não se tem que amar o Syriza ou achar que sabe o que faz –não está claro se sabe, apesar de a troika ter feito ainda pior— para acreditar que as instituições europeias acabaram de ser salvas de seus piores instintos. Se a Grécia tivesse sido forçada pelo medo às consequências financeiras, a Europa teria pecado de tal forma que mancharia sua reputação por gerações. Dentro de algum tempo possivelmente recordaremos disso como uma aberração.

E se a Grécia acabar saindo do euro? Nesse momento há, efetivamente, boas razões para o Grexit, mas, em todo caso, a democracia importa mais do que qualquer acordo monetário.

Os três próximos cenários,

Cenário 1 – Saída da Grécia da zona do euro

Essa é vista por muitos como a opção mais provável, mesmo após Tsipras ter dito que o resultado não significava uma ruptura com a Europa.

O problema é que muitos de seus colegas europeus viram o plebiscito como o fim do caminho – e acreditam que é chegada a hora de uma decisão rápida.

Ministros alemães, assim como líderes da Itália e da França, interpretaram a votação como um referendo sobre permanecer ou não com o euro.

O vice-chanceler alemão, Sigmar Gabriel, disse, no domingo à noite, que o primeiro ministro grego havia "queimado as últimas pontes entre a Europa e a Grécia que poderiam levar a um acordo".

Há diversas reuniões marcadas para os próximos dias entre líderes e ministros da zona do euro, mas o clima não é de otimismo.

O presidente do Eurogrupo (que reúne os ministros das Finanças dos países que usam o euro como moeda), Jeroen Dijsselbloem, disse que, "para recuperar a economia grega, reformas e medidas difíceis serão inevitáveis" e que o grupo "aguarda pelas iniciativas das autoridades gregas".

Eva Kopacz, disse que o referendo foi "um provável novo estágio em direção à saída de Atenas do Euro".

Cenário 2 - Colapso dos bancos gregos

Outra grande incógnita nesses acontecimentos é o futuro dos bancos gregos, que foram fechados em 29 de junho.

O governo grego prometeu que uma vitória do "não" levaria à reabertura dos bancos, na terça-feira. Mas o Banco Central Europeu não deve abrir a torneira do apoio financeiro que dá aos bancos gregos - e a sobrevivência dos bancos é uma questão de dias.

Uma das opções é os bancos reabrirem com uma moeda paralela até a reimplantação da antiga moeda grega, o dracma.

Por outro lado, a situação de queda livre da economia grega pode persuadir os europeus a recapitalizar o sistema bancário do país. Mas isso traria consequências políticas para outros países da zona do euro, como a Espanha, onde há turbulentas disputas políticas sobre o implemento de medidas de austeridade.

Mas muitos são contra a novas injeções de dinheiro aos bancos gregos, especialmente após o calote da dívida ao FMI, e com "recados" de autoridades: "A rejeição das reformas pelos gregos não pode significar que eles vão obter dinheiro mais facilmente", disse o ministro das Finanças da Eslováquia, Peter Kazimir.

Cenário 3 – Líderes europeus entram em acordo e evitam o colapso bancário

Parece pouco provável, mas o primeiro ministro grego já forneceu detalhes sobre um novo acordo e novas reformas, que não seriam tão distantes das propostas pelos credores.

Tsipras não quer apenas mais dinheiro. Nas mesas de negociações, ele também estará armado com um relatório do FMI, publicado três dias antes do plebiscito, que diz que a Grécia precisa de um considerável perdão da dívida e também de 50 bilhões de euros nos próximos três anos.

Além disso, para os bancos serem recapitalizados, a Grécia precisaria de acesso ao fundo permanente de resgate da zona do euro, que oferece taxas de juros mais baixas e termos de pagamento facilitados. Mas a essa altura, é difícil de se imaginar essa possibilidade.

Não é a Grécia, é a Rússia

As decisões que serão tomadas em Atenas vão afetar a Europa. Só que não tanto quanto as que serão tomadas em Moscovo. O Governo de Vladimir Putin tem os recursos, as armas e os estímulos para desestabilizar a Europa —e além dela. As más relações entre a Europa e a Rússia ainda não atingiram o nível da crise que há com a Grécia, mas caso continuem as tendências atuais, os conflitos com a Rússia farão esmorecer a atual crise helénica. Entre outras coisas porque os atritos com a Grécia são essencialmente económicos, ao passo que os problemas com a Rússia emanam de profundas discordâncias a respeito do significado e do valor da democracia. Para Europa e Estados Unidos, a democracia é um valor existencial. Para os atuais líderes russos, é um aborrecimento que pode ser contornado. Para o Kremlin é fácil e natural aparentar ser democrático sem o ser. Além disso, é complicado ser um Governo verdadeiramente democrático quando a economia está em crise e o país declina.

Segundo Strobe Talbott, um respeitado especialista, “Putin arruinou a economia da Rússia, reduziu sua influência internacional, conteve sua modernização, transformou vizinhos em inimigos e revitalizou a NATO”. Serguéi Ivanov não concorda. Para o ex-agente da KGB, agora chefe de gabinete de Putin, “os Estados Unidos e seus aliados são uma ameaça à Rússia. Com a desculpa de promover a democracia, o que realmente tentam é derrubar os regimes que não conseguem controlar”.

Isso implica que Putin, para defender seu país, tenha sido obrigado a apoiar rebeldes pró-Rússia em países como a Ucrânia e a Geórgia, nos quais agentes de potências estrangeiras estavam intervindo, disfarçados de ativistas democráticos. Seus críticos argumentam que esses “rebeldes pró-Rússia” não são mais que integrantes do Exército russo que, sem as insígnias que os identificam como tais, são infiltrados pelo Kremlin nos lugares onde a instabilidade favorece as suas aventuras bélicas expansionistas. Obviamente, o mundo seria muito mais estável se em vez desses crescentes conflitos nas relações do gigante russo com a Europa e com os EUA houvesse uma distensão e a busca de mais harmonia. Infelizmente, as hipóteses disso acontecer é muito baixa.

As razões para que os atritos continuem são várias, mas a principal tem relação com a diferença que existe entre a Rússia e as democracias ocidentais a respeito das razões pelas quais proliferaram os protestos de rua contra os Governos. Putin e a elite política de seu país estão convencidos de que esses protestos são artificiais e surgem de um diabólico e secreto plano dos EUA e de seus aliados europeus. As revoluções coloridas que no início deste século depuseram ou desestabilizaram múltiplos governos, da Ucrânia à Geórgia, ou as da primavera árabe, são vistas pelo Kremlin como exemplos de um novo tipo de ameaça que paira sobre a Rússia: a nova forma que os seus adversários têm para atacá-la. Segundo Serguéi Lavrov, ministro das Relações Exteriores, “é difícil resistir à impressão de que o objetivo das várias revoluções coloridas e outros esforços para depor Governos incómodos seja provocar caos e instabilidade”. Na Assembleia Geral da ONU, Lavrov propôs que fosse declarada inaceitável a interferência nos assuntos domésticos de Estados soberanos e que nenhum país devesse reconhecer mudanças de Governo provocadas por um golpe de Estado.

Iván Krastev, um arguto observador, notou que o temor do Kremlin em relação aos protestos de seu próprio povo fez que “Moscovo, que uma vez foi o combativo centro da revolução comunista mundial, tenha agora se transformado no mais feroz defensor dos Governos cujos cidadãos protestam nas ruas”. Segundo Krastev, o que a Rússia exige das democracias ocidentais é algo que nenhum Governo democrático pode prometer: que a Rússia de Putin não será sacudida por protestos em massa de uma população que rejeita o modelo político e económico imposto. E que, caso haja tais protestos, os Governos ocidentais e os meios de comunicação os condenarão, apoiando dessa maneira os que mandam no Kremlin. A premissa dessa exigência é que os protestos jamais aconteceriam de forma espontânea, sem a intervenção de potências estrangeiras e sem que tenham líderes claramente definidos.

De Hong Kong ao Brasil, e da Tunísia ao México, há provas avassaladoras de que o Kremlin está errado. Os protestos são espontâneos, não têm organização hierárquica nem respondem a uma coordenação central. Muitas vezes nem têm líderes permanentes. No que Putin e seu grupo não se equivocam é em temer que algum dia milhões de russos fartos deles saiam às ruas para exigir um futuro diferente.

“Chorei muito para tomar essa decisão”, diz eleitora grega

O drama existencial que para muitos gregos representou a convocação do referendo se traduzia neste domingo no choro de Petrula Diamantopulu, professora reformada e moradora de Kipseli, bairro de classe média de Atenas, o mesmo em que reside —e vota— o primeiro-ministro, Alexis Tsipras. A escolha de Diamantopulu não foi entre o sim e o não, e sim entre a cabeça e o coração. Eleitora habitual do Syriza, partido no qual garante que continuará a votar nas próximas eleições, inclinou-se para o sim após uma discussão de tom quase épico consigo mesma, com sua ideologia e sua trajetória “e a favor de uma ilusão”.

 “Tomar esta decisão me fez chorar, e votei sim com tristeza, porque além de tudo acho que as duas opções são igualmente más para o país, mas, na minha opinião, o sim pode nos dar um pouco de alento para superar esta catástrofe”, contava no pátio da escola número 15 de Atenas. “Votei sim ainda que sabendo perfeitamente que as medidas propostas pelos credores são muito duras e que este país não tem resistência nenhuma, nem econômica nem de alma, para suportar mais cortes... Mas votar não seria bater diretamente a porta na nossa própria cara. Contra o que me pedia o corpo, votei dessa maneira apenas para que haja alguma chance de lidar com a situação. E nas eleições gerais continuarei a votar no Syriza”, acrescentava, visivelmente abatida, engolindo o sapo do seu voto.

No mesmo local de votação, Nina, outra reformada, de 80 joviais anos, expunha suas razões para votar da mesma forma. “Na família somos todos da Nova Democracia [partido defensor do sim na consulta] há gerações... Por isso ia votar sim, com esta situação tão desastrosa, em que o Governo nem sequer sabe tomar decisões... Tsipras tomou um lado e deixou o problema para nós”.

Mas a razão verdadeira de seu voto era o medo do futuro e o porvir dos seus. “Também votei sim porque tenho filhos e netos, e isso tudo me preocupa, parece muito mau”, admitia. De improviso entra na conversa Eli, outra pensionista, de 82 anos. “E nós outros, não temos filhos ou netos? Só os votantes do sim têm direito a se preocupar com o futuro?”

A resposta de Nina não demora a se transformar numa intensa, mas polida, troca de opiniões entre as duas mulheres, no que parece várias vezes um conceito que marcou a campanha e, com todas as hipoteses, o futuro imediato da Grécia: a divisão, o corte do país em duas partes, a polarização, em resumo. “Vivi a guerra civil, por isso não tenho nenhum medo de uma nova divisão do país”, sustentava Eli, que admitia abertamente ter votado não. “Porque não quero, para mim nem para os meus, outros cinco anos, no mínimo, de novas medidas de austeridade e cortes, desse remédio do qual já tomamos bastante.”

As duas mulheres se engajam num apaixonado, mas cortês, debate, que termina quando Nina brande o fantasma de guerra civil que durante a campanha contagiou até algumas manchetes sérias de imprensa e programas televisivos. “Com esses argumentos é melhor não perder tempo, não vamos nos entender”, diz discretamente Eli.

A divisão do país em duas metades era também a maior preocupação, “até mais que a situação econômica”, de Georgía, de 39 anos, longamente desempregada, que ao meio-dia deste domingo votava numa escola do bairro de Exarjia. “Não decidi ainda meu voto, para dizer a verdade”, explicava no pátio. “Vou fazer isso com o coração, não com a cabeça.” As duas opções lhe pareciam iguais, “nenhuma tem nada bom, somente uma nova fase de dificuldades, mas estamos acostumados a isso... O que mais me preocupa é a divisão do país, foi a primeira sensação que tive quando Tsipras convocou o referendo. Felizmente o povo grego está dando uma lição de serenidade, não houve nenhum incidente, apenas calma e sensatez. Mas vamos ver o que acontece...”

Numa outra escola, dois eleitores da faixa dos vinte e poucos anos, Dimitris (arquiteto que ganha 8.000 euros, por ano) e Petros (estudante universitário na Escócia), que se confessam “ferrenhos partidários do euro e da Europa", revelavam seu voto, negativo. “Acreditamos na democracia, e a atitude dos parceiros não é, em absoluto, democrática. Acreditamos no valor do diálogo e da negociação, que sempre são algo positivo, e estamos seguros de que a partir de hoje se retomará o processo de forma mais decisiva e, pela primeira vez, em pé de igualdade”, dizia Dimitris. “Se o não ganhar, claro”, completava Petros.

Fica na versão original - The Government of Hungary Is Going to Pay Its Young People Just to Live There

The Hungarian government is so concerned about the number of young Hungarians leaving the country that it is offering to fly them home and pay them to stay.

“Come home, young person!” is a new program aimed at persuading Hungarians living abroad to return to their home country. A Hungarian government event in London on June 28 to promote the program touted its promise of a free return flight, a 100,000 forint monthly allowance (about $350) for a year, and the possibility of a job close to family, Hungary Todayreports.

Szabolcs Pakozdi, managing director of Hungary’s job placement office, stressed to the audience that participants were not obligated to work in the country for a specific period of time.

The Hungarian Central Statistics Office estimates that 31,500 Hungarians left the country in 2014, a 46% increase over 2013, Reuters reports. In total, there are thought to be 350,000 Hungarians working abroad, most of them young singles. Many profess to be uncomfortable with the country’s abrupt political shift to the right under Prime Minister Viktor Orban.

In response, former street artist Gergo Kovacs ran a successful crowdfunding campaign the first week of July to put up enormous posters around the country. “If you come to Hungary,” read one, “Could you please bring a sane Prime Minister?”

Portugal - A BOMBA RELÓGIO

O analista britânico Matthew Lynn afirma esta quarta-feira na sua coluna de opinião no WSJ Market Watch que o nível de dívida pública portuguesa, acima dos 130%, poderá ser já “insustentável”.

No artigo em causa, “Forget Greece, Portugal is the eurozone’s next crisis“, Lynn salienta que Portugal tem o maior índice de dívida publica em percentagem de PIB na zona Euro, e que a maior parte da dívida é detida por estrangeiros.

Segundo o financeiro, a economia portuguesa não se encontra no estado de permanente crise da economia grega, que “está nos cuidados intensivos”, mas não parece capaz de conseguir uma recuperação sustentada.

Portugal, diz Lynn, “ainda está em sarilhos“, e poderá ter que enfrentar uma situação de incumprimento. Lynn antecipa mesmo que as eleições legislativas de Outubro poderão despoletar uma segunda crise em Portugal.

“À superfície, Portugal parece estar muito melhor do que há três anos, depois de ter saído com êxito do programa de assistência da troika“, continua o analista, “e a economia parece estar a crescer”.

Se, depois da Irlanda, também Portugal conseguir efectivamente recuperar da crise, “será uma vitória estrondosa para a União Europeia e para o FMI”, cuja receita baseada em austeridade se revelou “umacatástrofe” na Grécia.

O problema, diz Lynn, é que Portugal poderá afinal não estar salvo.

Segundo o analista, a evolução positiva de alguns dos principais indicadores económicos – consumo, desemprego, exportações, investimento – parecem não ser sustentadas.

Mas o verdadeiro problema, defende o cronista, é mesmo a dívida.

Portugal tem uma dívida pública de 130% do PIB, e 70% dela é detida por estrangeiros.

Até há países, como a Finlândia ou a Letónia, com maior percentagem de dívida detida por estrangeiros. Mas têm muito pouco endividamento. Itália, por outro lado, tem uma enorme dívida pública – mas quase toda contraída internamente.

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O problema agrava-se quando se junta à equação o endividamento das empresas e das famílias. Somados os três indicadores, Portugal tem a maior dívida da zona Euro – maior ainda que a da Grécia.

“A certa altura”, diz Matthew Lynn, “todos esses credores estrangeiros vão perceber que poderão ter que perder parte dessa dívida. Quando tal acontecer, haverá uma corrida para vender dívida portuguesa”.

“E as eleições que estão à porta podem ser o rastilho para essa corrida“, conclui.

Traçado o relato de um país que é uma bomba-relógio com data marcada para Outubro, resta a Portugal contrariar esta visão e confirmar que saiu mesmo da crise.

Até porque já antes se chamou tal coisa a Portugal e a bomba ainda não explodiu.

Naufrágio à vista - Crescem os novos pobres, recrutados especialmente entre a classe média

Com um elevadíssimo desemprego, mesmo quando os números oficiais registam decréscimos, que têm sido muito lentos e às vezes são interrompidos por acréscimos pontuais (assim como o preço dos combustíveis que às vezes desce às vezes sobe), com um crescente alargamento do fosso social - menos gente no topo da pirâmide e muito mais gente na base - e com o mar agitado dos aumentos dos impostos e da austeridade, a classe média em Portugal está a naufragar.

Crescem os novos pobres, recrutados especialmente entre a classe média, onde cabem muitos licenciados que já viveram confortavelmente

Sempre foram (e em muitos casos particularmente por via do acesso à propriedade que habitam) a coluna vertebral do crescimento de muitas economias, mas hoje deixaram de ser a prova de que a chamada terceira via - nem capitalismo selvagem nem socialismo colectivista - poderia funcionar como terá funcionado em alguns países da Europa do Norte, ainda muito marcados pela matriz da social democracia.

Com menos emprego, com menos Estado Social pela via da redução do acesso a serviços públicos anteriormente garantidos, crescem os novos pobres, recrutados especialmente entre a classe média, onde cabem muitos licenciados que já viveram confortavelmente e que agora chegam a fingir que não passam fome e tentam acreditar que a culpa do que está a acontecer é deles, por alegadamente terem vivido acima das possibilidades.

Todos nós tentamos acreditar que isto está a melhorar um pouco, devagarinho, mas a melhorar um pouco. Sabemos que será muito difícil conseguirmos o pleno emprego, mas com os actuais valores de desemprego existentes as perspectivas para a classe média são verdadeiramente assustadoras. Os desempregados de longa duração, na casa dos 50 anos de idade, mesmo quando são altamente qualificados olham para o futuro com angústias nunca antes imaginadas.

Ter emprego já não é garantia de escapar à queda. Numa das últimas estatísticas, quase 15% dos portugueses que tinham trabalho estavam em risco de tornar-se pobres. Mesmo continuando a trabalhar, essa situação distorce a própria ideia de classe média - o exército que alimentava o movimento dos museus, o público dos teatros e das salas de música, os frequentadores dos restaurantes de boa qualidade e até os leitores de certas revistas e de certos jornais, bem como o negócio dos carros de gama média alta, ou o negócio das viagens turísticas.

Muitos destes portugueses suspeitam estar a ser olhados pelos filhos como um fardo pesadíssimo, situação que é mais agravada quando os filhos, grande parte da geração portuguesa mais qualificada de sempre, estão fora do país e sem grande vontade de regressar, apesar do amor que continuam a ter por Portugal. Há muito que se sabe que essa história de amor e uma cabana é coisa que nem nos romances cor de rosa já se consegue acolher.

Não podemos ignorar e devemos tentar evitar este naufrágio anunciado. Quando sabemos que a classe média está a perder terreno, está a perder o emprego, está a perder a casa, está a perder a face e, o que é mais preocupante, está a perder a vontade de dar a volta a esta situação e de reencontrar os caminhos do crescimento e do desenvolvimento equilibrados.

Texto de: Luis Lima Presidente da APEMIP para o Jornal SOL

O Nobel Paul Krugman não é grego, mas votaria "não". Por duas razões

O prémio Nobel da Economia Paul Krugman não é grego. Por isso, não votará no referendo às propostas dos credores internacionais do próximo domingo. Mas, se Krugman fosse grego, o sentido de voto já estaria definido: "Não"."Por duas razões", escreve o norte-americano no blogue que mantém no jornal "New York Times", Paul Krugman faz campanha a favor do "não". E fá-lo assente em dois argumentos-base.Primeiro, sair do euro é melhor do que continuar com o mesmo programa que os credores impuseram nos últimos cinco anos. "Onde é que está a esperança nesta proposta?", questiona o economista.

E, segundo, votar "sim" na consulta popular , na óptica do vencedor do Nobel da Economia em 2008, teria como resultado a necessidade de substituir o Syriza do poder. "E mesmo para quem não gosta do Syriza, isso seria preocupante para quem acredita nos ideais europeus."

Em sentido contrário a esta tese, o editorial do jornal económico "Financial Times" (FT) de domingo diz que Tsipras não está a ser honesto com o povo grego. O FT argumenta que a questão está colocada como se o que estivesse em causa fossem as medidas de austeridade, quando o que se joga é o futuro da Grécia na zona euro.

Krugman argumenta que os cenários mais catastróficos já estão a acontecer: "OK, isto é real. Os bancos gregos estão fechados, o controlo de capitais foi imposto", escreveu o Nobel.

"'Grexit' [saída da Grécia do euro] não está assim tão longe — a temida corrida aos bancos já está a ocorrer, o que significa que a análise dos custos-benefícios a partir de agora começa a ser mais favorável do que nunca à saída do euro", defende Paul Krugman.

Stiglitz. O projecto da zona euro "nunca foi democrático"Outro Nobel da Economia, Joseph Stiglitz, é também muito crítico do rumo europeu.Num artigo publicado pelo jornal inglês "The Guardian", Stiglitz afirma que finalmente está a cair a máscara aos líderes europeus, que "começam a revelar a verdadeira natureza da actual disputa".  "Isto tem muito mais a ver com o poder e democracia e não com dinheiro e economia", escreve. "O projecto da zona euro nunca foi muito democrático."

Para o Nobel, cinco anos de vigência de programas da troika na Grécia só pioraram a situação do país. Stiglitz diz que muito do dinheiro que chegou à Grécia emprestado pelas instituições internacionais serviu para pagar a credores privados alemães e franceses, não chegando sequer entrar na economia do país.

O economista chama a atenção para o que diz ser programa macroeconómico completamente desajustado. "A Grécia transformou um grande défice primário num 'superavit', o que poucos países conseguiram em cinco anos. Isto, no entanto, teve custos extremamente altos em termos de custos humanos, sendo que as propostas gregas mais recentes foram na direcção do que era exigido pelos credores".

Depois de traçar um cenário negro sobre o que aconteceu na Grécia desde 2010, Stiglitz começa a analisar as consequências de cada um dos resultados do referendo de 5 de Julho.

"Nenhuma das alternativas – aprovação ou rejeição – é fácil e ambas acarretam riscos muito grandes. Um voto no 'sim' significa depressão sem fim. Talvez um país na miséria –  que vendeu todas as suas mais-valias e que fez com que os jovens emigrassem – possa finalmente conseguir uma perdão da dívida e a redução dos rendimentos da classe média possa levar a que finalmente a Grécia possa obter assistência no Banco Mundial."Por oposição, o economista diz que votar "não" abre pelo menos a possibilidade de a Grécia assumir o seu próprio destino. "Os gregos teriam de novo a possibilidade de definir o futuro, que, apesar de poder não ser tão próspero como o passado, trará mais esperança do que a tortura do presente".

Joseph Stiglitz termina o texto assim: "Eu não tenho dúvidas sobre qual seria a minha opção."

Como nove juízes vitalícios moldaram a sociedade dos EUA

Os nove juízes da Corte Suprema, nomeados pelo presidente dos Estados Unidos e ratificados pelo Senado, possuem cargos vitalícios. Sua influência é muitas vezes maior do que a do presidente. Suas decisões são inapeláveis, ninguém pode demiti-los, não prestam contas. Antidemocrático? Não. Na maior parte dos casos, o tribunal manteve a sintonia com os pontos de vista da maioria da população. Os juízes, escreveu o cientista político Robert McCloskey no clássicoThe American Supreme Court (A Corte Suprema dos Estados Unidos, publicado originalmente em 1960), “raramente se afastaram muito da corrente principal da vida americana e raramente superestimaram seus próprios recursos”.

Assim os juízes modelaram a sociedade americana (alguns exemplos):

A FAVOR DA ESCRAVIDÃO. Possivelmente o caso Dred Scott contra Sandford, de 1857, seja a decisão mais vergonhosa na história da Corte Suprema. Os juízes decidiram que os escravos não eram cidadãos e que o Congresso não poderia proibir a escravidão nos novos territórios dos Estados Unidos. Quatro anos depois, começou a Guerra Civil.

INTEGRAÇÃO NAS ESCOLAS. A decisão do caso Brown contra o Conselho de Educação de Topeka, em 1954, tornou ilegal a segregação racial nas escolas. A base legal, como na decisão que legalizou o casamento gay nesta sexta-feira, é a 14ª Emenda à Constituição, que garante a igualdade perante a lei.

CASAMENTO INTER-RACIAL.Mildred Jeter, uma mulher branca, e Richard Loving, um homem negro, foram presos várias vezes por violar as leis que proibiam casamentos entre raças diferentes. No caso Loving contra o Estado de Virginia, de 1967, os juízes decidiram que tais proibições em vários Estados eram inconstitucionais.

ABORTO LEGAL. A decisão sobre o caso Roe contra Wade, em 1973, reconheceu o direito ao aborto em todo o país, porém, mais de quatro décadas depois o debate permanece aberto e as divisões entre progressistas e conservadores persistem.

RECONTAGEM NA FLÓRIDA.No caso Bush contra Gore, a Corte Suprema interrompeu a recontagem dos votos na Flórida, o Estado que decidiria a disputada eleição presidencial do ano 2000. A consequência foi a vitória do republicano George W. Bush contra Al Gore, seu adversário democrata.

FINANCIAMENTO ELEITORAL. No caso Citizens United contra FEC de 2010, a Corte Suprema abriu a porta ao financiamento ilimitado das campanhas políticas. A decisão contrapôs os juízes ao presidente Barack Obama.

REFORMA DA SAÚDE. Em duas sentenças, em 2012 e 2015, a Corte Suprema aprovou a reforma da saúde, o projeto central de Obama nessa área. A Corte Suprema, adversária alguns anos atrás, tornou-se uma grande aliada do presidente.