Os alarmes soaram dias atrás quando veio a público que os três principais partidos de Portugal fizeram um acordo para exigir dos veículos de comunicação – públicos e privados – um plano da cobertura eleitoral das eleições legislativas do segundo semestre. Ninguém duvida que essa ideia, transformada num projecto de lei, seria um ataque ao coração das liberdades. Implicava simplesmente em recuperar a censura prévia, uma prática que parecia erradicada nos países democráticos. Uma ofensiva desse calibre para amordaçar a liberdade de imprensa, o direito à informação e a independência dos veículos de comunicação nos faria retroceder para outra época. E é ainda mais triste que tal coisa fosse pretendida justamente quando se comemora os 41 anos da Revolução dos Cravos.
O texto acertado por socialistas, social democratas e liberais era delirante: jornais, rádios, televisões e sites seriam obrigados a comunicar previamente as notícias, reportagens, entrevistas ou debates de conteúdo eleitoral. Além disso, um jornalista não poderia criticar sempre o mesmo partido, medida que levaria mais de um profissional da imprensa ao exílio.
Todo o processo seria controlado por uma comissão integrada pelos partidos (ou seja, delegados políticos), e os infractores poderiam ser multados até 50.000 euros. Os autores de tamanho despropósito sustentavam que o objectivo era assegurar o respeito à proporcionalidade do Parlamento. É, certamente, a mesma desculpa utilizada nas televisões públicas espanholas, obrigadas a usar o cronometro para que a duração da notícia se adapte ao número de deputados ou vereadores. Essa forma de entender a informação rompe com qualquer critério profissional e burocratiza o trabalho dos jornalistas.
Como não podia deixar de ser, os veículos de comunicação portugueses não demoraram em condenar o projecto. Todos disseram que se fosse para frente, seria boicotado. Diante do gigantesco escândalo causado, os partidos apressaram em voltar atrás. Dizem que nada do anterior era uma proposta formalizada e lavaram as mãos. Na água ficaram os restos de dissimulados tiques antidemocráticos.
Pode ter mudado a equipe negociadora, mas não a política do Governo grego perante os seus parceiros do Eurogrupo (instância que reúne ministros de Finanças e outras autoridades da zona do euro) e do Fundo Monetário Internacional (FMI). Assim se depreende da entrevista concedida na noite de segunda-feira pelo primeiro-ministro Alexis Tsipras ao canal privado de televisão Star, na qual descartou a ideia de convocação de eleições antecipadas se não obtiver um acordo com os credores, mas apontou a possibilidade de realizar um referendo “para que seja o povo que se pronuncie” a respeito. Embora pudesse ganhar com maioria absoluta, segundo quase todas as pesquisas, Tsipras afirmou: “Qual o sentido de convocar eleições? Somos um governo eleito há três meses”.
O chefe do Governo e líder da coalizão Syriza reiterou sua confiança em chegar a um acordo com as instituições antes conhecidas como troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI) antes da próxima reunião do Eurogrupo, a 11 de maio, uma possibilidade que também foi citada pelo seu vice-presidente, Yanis Dragasakis. O pacto é condição sine qua non para o desembolso da última parcela do resgate, 7,2 bilhões de euros, que injetariam liquidez nos minguados cofres gregos, especialmente pelo fato de que em maio o Estado terá de pagar uma nova parcela ao FMI.
Mas, se o acordo entra em contradição com o mandato recebido nas urnas a 25 de janeiro, Tsipras afirmou que consultaria o povo mediante um referendo. A ideia de um referendo é um anátema em Bruxelas, e vale recordar que a proposta de uma consulta popular sobre a conveniência do segundo resgate custou o posto ao então primeiro-ministro grego, o socialista Yorgos Papandreu, no segundo semestre de 2011. “Não tenho direito de decidir pelo povo grego se as negociações chegarem a um ponto em que não correspondam ao mandato” saído das urnas, ressaltou Tsipras.
A entrevista, que durou quase três horas e contou com a participação dos espectadores, deixou claro que Yanis Varoufakis “continua a ser um grande ativo do Governo grego”, apesar da sua aparente marginalização da equipe negociadora, de cuja chefia foi substituído pelo catedrático de economia Efclidis Tsakalotos, até agora o número 2 da pasta de Relações Exteriores e com amplo respaldo do Syriza, incluindo sua ala esquerda. Como fizera algumas horas antes, Tsipras não deu importância à reorganização e, sobretudo, apoiou Varoufakis diante das graves críticas dos parceiros europeus, afirmando que, se os incomodou, é porque “fala o seu idioma melhor que eles”, se bem que – reconheceu – defenda com muita firmeza suas opiniões.
Tsipras não entrou em detalhes sobre as negociações em andamento, mas explicitou a existência de claras diferenças em relação a assuntos-chave para a Grécia, como a recuperação dos acordos coletivos, a elevação do salário mínimo até 751 euros ou o aumento do IVA nas ilhas – todas elas, linhas vermelhas para o Executivo do Syriza. Sobre os processos de privatização em curso, o chefe do Governo afirmou que serão estudados um a um, e mostrou-se aberto a seguir com a parte do porto de Pireu e os 14 aeroportos regionais, numa clara concessão às exigências do grupo de Bruxelas.
O Tribunal de Justiça da União Europeia emitiu na quarta-feira uma sentença controversa que permite excluir os homossexuais da doação de sangue. Esse órgão permite que um Estado membro possa estabelecer uma exceção permanente de homens que tenham mantido relações sexuais com outros homens pelo “alto risco” de contrair doenças infecciosas que estes apresentam. O tribunal, entretanto, deixa nas mãos da justiça francesa – que levou a questão às instâncias europeias – decidir se as leis desse país são proporcionais ao risco e se a evidência científica disponível basta para justificar tal medida.
O caso começou em 29 de abril de 2009, quando um médico da cidade francesa de Metz recusou a doação de sangue de um homem, chamado Léger, por este ter mantido relações sexuais com outro homem. O médico baseou-se em uma ordem ministerial francesa que permite excluir permanentemente os homossexuais da doação. Léger recorreu da decisão por considerar que essa norma infringe as normas europeias e o tribunal administrativo de Estrasburgo, encarregado de pronunciar-se sobre o litígio, levou a questão ao Tribunal de Justiça da UE para que este se pronuncie. A sentença europeia, portanto, tem ampla repercussão pois alcança qualquer outro tribunal europeu que enfrentar um caso semelhante, não somente o que fez a pergunta.
Consciente do alcance de tal sentença, o tribunal com sede em Luxemburgo solicita à corte francesa – e a qualquer outro que examine uma demanda desse tipo – que garanta que a medida seja regular. “Uma contraindicação permanente para a doação de sangue aplicável à totalidade do grupo constituído pelos homens que tiveram relações sexuais com outros homens só é regular se não existirem métodos menos coercitivos para garantir um alto nível de proteção da saúde dos receptores”, especifica a sentença.
Ao menos 50 países no mundo proíbem a doação de sangue de homossexuais. No Brasil, as regras são contraditórias: há uma portaria da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), RDC número 153 (de 14 de junho de 2004 (RDC nº. 153) que classificam como doadores de "risco acrescido" os "homens que tiveram relações sexuais com outros homens e ou as parceiras sexuais destes".
Na prática, cada tribunal nacional decidirá se a saúde pública de seu país tem alternativas para garantir a segurança das doações de sangue. O Governo francês alega que existe um período imediatamente posterior à infecção viral em que, mesmo realizando-se testes de HIV, não é possível detectar o vírus no contaminado. Ainda assim, os dados que supostamente justificam essa maior situação de risco entre o coletivo homossexual são duvidosos. Entre 2003 e 2008, quase todas as contaminações de AIDS ocorreram por contato sexual e 48% das novas, por homens que mantiveram relações sexuais homossexuais (nada é dito sobre os 52% restantes). Esse coletivo homossexual é a população mais afetada pelo HIV, numa percentagem 200 vezes superior a dos heterossexuais franceses. E a França é o país da Europa e Ásia Central que apresenta maior proporção entre os homossexuais, de acordo com a informação do tribunal.
Com todas essas considerações, a justiça europeia alerta que a lei francesa “pode conter uma discriminação por razão de orientação sexual” e solicita ao órgão judicial francês a comprovação da existência de critérios de interesse geral que justifiquem essa ação e se são regulares. Mas se um país acredita cientificamente nessa situação de risco e se o tribunal a considera regular, a instância europeia é clara: o critério de exclusão permanente “satisfaz a suposição na qual um Estado membro, tendo em conta a situação nele predominante, estabeleça uma contra indicação permanente para a doação de sangue no caso dos homens que mantiveram relações sexuais com outros homens”.
Os violentos incidentes de segunda-feira em Baltimore depois da morte de Freddie Gray, o jovem afro-americano que morreu no dia 19 de abril quando estava sob custódia policial da cidade, no Estado de Maryland, revelaram uma heroína. Uma mulher que assistia pela TV aos confrontos entre manifestantes e policias reconheceu o seu filho que estava a atirar pedras. No meio da transmissão da rede WMAR, de Baltimore, surgiu uma senhora agarrando um rapaz pelo braço e, aos estalos, tirando-o de lá, enquanto lhe dizia “tira esse maldito capuz”.
As imagens tornaram-se virais, visto e comentado milhares de vezes nas redes sociais. As autoridades policiais da cidade disseram “tomara que houvesse mais pais assim” na noite dos distúrbios, que deixaram 15 policiais feridos e levaram à prisão de 200 pessoas.
Os comentários no Twitter foram unânimes em chamar a mulher de “Mãe do Ano”.
Os fãs da família real britânica, dentro e fora do Reino Unido, aguardam ansiosamente a chegada do segundo filho do príncipe William e de sua esposa, Kate Middleton, os duques de Cambridge.
Um grupo dos chamados "superfãs" está acampando há dias em frente à maternidade St. Mary's, no oeste de Londres, onde a duquesa de Cambridge está internada apenas esperando o início do trabalho de parto.
As especulações aumentam sobre o sexo da criança, os possíveis nomes e sobre como ele ou ela será apresentado ao mundo.
Abaixo, conheça sete dados a respeito do nascimento de mais este membro da família real britânica.
1 -Será menino ou menina?
Ninguém sabe.
E a razão é que muitos casais da Grã-Bretanha preferem não descobrir o sexo da criança antes do parto. O costume é tão arraigado que alguns hospitais públicos não falam qual o sexo da criança para os pais, a não ser que perguntem.
2 -Quando vai nascer?
Ainda não se sabe ao certo. Muitos inclusive têm apostado dinheiro que o nascimento poderia ocorrer ainda nesta quarta-feira, 29 de abril, quarto aniversário do casamento de Kate e William.
E, sim, na Grã-Bretanha é possível fazer apostas a respeito de tudo: incluindo o dia do nascimento do bebê real.
3 -Como vai se chamar?
Isto também ainda é um mistério.
Caso seja menina, o nome favorito entre os apostadores é Alice. No caso de um menino, o nome que lidera as apostas é James.
4 -Como vamos ficar sabendo?
A família real vai anunciar a chegada do bebê através de sua conta no Twitter (@BritishMonarchy).
E, sendo um bebê do século 21, o segundo filho de William e Kate já conta com uma página na Wikipedia, antes mesmo de nascer.
5 -Se for uma menina, poderá chegar a ser rainha?
Para isto acontecer, o príncipe Charles, pai de William, precisaria renunciar ao seu direito ao trono ou morrer. O mesmo teria que acontecer com William e com o irmão mais velho do bebê, George.
Mas, pelas novas regras de sucessão real, o bebê, se for uma menina, poderá chegar a ser rainha, sendo a quarta pessoa na linha de sucessão à coroa britânica.
6 - Como a chegada do bebê real será celebrada?
Todo bebê que nascer no mesmo dia que o segundo filho dos duques de Cambridge receberá uma moeda comemorativa de prata.
Adultos também vão comemorar. E, se mostrarem o mesmo entusiasmo observado no nascimento do primeiro filho do casal, George, os britânicos esperam restaurantes e pubs lotados e aumento nas vendas.
7 -Outros países também demonstraram interesse pelo bebê real?
A Finlândia, por exemplo, enviou para Kate e William seu famoso kit maternidade que o governo entrega gratuitamente a todas as mulheres grávidas do país.
O kit inclui uma caixa com roupas, lençóis e brinquedos, e a ideia é que a própria caixa seja usada como cama durante os primeiros meses de vida do bebê. O país já tinha enviado este kit para o primeiro filho do casal, George.
Uma ONG americana desenvolveu um tipo de sandália infantil de tamanho ajustável para calçar crianças vivendo em situações de pobreza.
Entre o primeiro e os seis anos de idade, o pé de uma criança pode mudar de tamanho em poucos meses, o que torna difícil para famílias de baixa renda e orfanatos manterem a criança adequadamente calçada.
Os "sapatos que crescem" podem ser ajustados cinco vezes e foram projetados para durar em torno de cinco anos.
O idealizador do calçado - uma sandália com sola de borracha robusta e parte superior em couro - é o pastor Kenton Lee, da cidadezinha de Nampa, em Idaho, nos Estados Unidos.
Lee, de 30 anos, é também o fundador e diretor-executivo da ONG Because International, que distribui os sapatos.
Falando à BBC, Lee contou que depois de terminar a faculdade viajou para Nairóbi, no Quênia. Lá, foi morar e trabalhar em um orfanato.
"Um dia, estava com as crianças e vi uma menina com sapatos que eram pequenos demais. Ela tinha feito uma abertura na ponta dos calçados, para abrir espaço para os dedos. Naquele dia, tive uma ideia: e se pudéssemos criar um sapato que se ajustasse, que aumentasse de tamanho?"
Ele explicou que a ideia inicial partiu dele, mas muitas pessoas contribuíram para que se concretizasse.
Fivelas e uma tira permitem que o calçado se expanda para acomodar o pé da criança à medida que ele cresce.
"Criamos um design muito simples e funcional. As próprias crianças podem ajustar o calçado para ter conforto e proteção."
A sandália é fabricada em dois tamanhos, explicou Lee.
"Provavelmente, vamos fabricar tamanhos maiores, mas no momento temos o pequeno e o grande. O menor serve para crianças do jardim da infância até a quarta ou quinta séries. O maior vai dali até a nona série."
Lee contou que o objetivo central da iniciativa era ajudar crianças em todo o mundo que precisam desesperadamente de sapatos. Funciona assim: os interessados em doar os calçados podem visitar o site da Because International e fazer sua contribuição. Uma doação de US$ 10 compra um par.
"Qualquer pessoa pode ir ao nosso site e ajudar crianças em todo o mundo a terem um par de sapatos", disse.
No entanto, o calçado que cresce está fazendo tanto sucesso que Lee considera expandir o projeto.
"Recentemente, fomos contactados por muitas pessoas interessadas no projeto, gente da Grã-Bretanha, dos Estados Unidos... então, talvez criemos um programa para que os sapatos sejam comercializados."
Ele avisa que são definitivamente calçados para climas quentes. "Esperamos poder melhorá-los cada vez mais, mas estamos muito felizes com o que temos nesse momento."
"Quando conheci meu marido, eu soube que queria ficar com ele pelo resto da minha vida, até que a morte nos separasse. A maioria das pessoas sente isso quando encontra o amor de sua vida", diz o americano Jim Obergefell, 48 anos, ao falar sobre John Arthur, seu parceiro por 21 anos.
"Mas a maioria das pessoas não imagina que a hora de se separar vai chegar tão cedo. Ou pelo menos, quando a hora chega, elas não imaginam que terão de lutar pela dignidade básica de ter seu casamento reconhecido", afirma, em um texto publicado pela organização de direitos civis União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU, na sigla em inglês).
A história de Obergefell e Arthur ganhou atenção nacional e está no centro da ação na Suprema Corte (a mais alta instância da Justiça americana) que pode mudar os rumos do casamento gay nos Estados Unidos.
Atualmente, 13 Estados americanos ainda reconhecem somente casamentos entre um homem e uma mulher, mas isso pode mudar dependendo da decisão da Suprema Corte, esperada para junho.
Criado em uma família católica de seis filhos, Obergefell conta que Arthur foi seu primeiro relacionamento sério.
Eles se conheceram em 1992 e durante duas décadas construíram uma vida juntos em Cincinnati, no Estado de Ohio, cidade que já chegou a ser eleita a "mais antigay" do país, mas que atualmente é considerada mais tolerante.
Obergefell diz que, durante a maior parte do relacionamento, não pensavam que poderiam se casar, por serem gays.
"Apesar de sermos como qualquer outro casal que se ama que conhecíamos, a nós era negada a proteção e a dignidade que vêm com o casamento", relata.
Isso mudou em 2013, quando uma decisão histórica da Suprema Corte abriu caminho para que casais do mesmo sexo tivessem acesso a benefícios federais até então exclusivos para heterossexuais.
Ao ver a notícia pela TV, eles decidiram se casar, sabendo que não tinham muito tempo.
A essa altura, Arthur estava preso a uma cama. Dois anos antes, em 2011, ele fora diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica, doença que não tem cura, e começou a perder o controle de seus movimentos musculares e a fala.
Como o Estado onde viviam, Ohio, não permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo, eles arrecadaram US$ 13 mil com familiares e amigos e alugaram um jato com equipe médica para viajar a Maryland, Estado onde o casamento gay é permitido.
Em 11 de julho de 2013, Obergefell e Arthur trocaram votos e alianças em uma cerimônia de menos de dez minutos, realizada dentro do avião, na pista de um aeroporto em Baltimore.
Ao voltar para casa, entraram com uma ação para que o casamento fosse formalmente reconhecido na certidão de óbito, quando Arthur morresse. Após decisão favorável de um juiz federal, o Estado de Ohio recorreu, e o caso chegou à Suprema Corte.
Arthur morreu três meses após o casamento, em outubro de 2013, aos 47 anos.
"Tive a honra de cuidar de John enquanto a doença lhe roubava todas as capacidades", lembra Obergefell.
"A ideia de que John pudesse ser identificado como 'solteiro' e que o campo do 'esposo' ficasse vazio em sua certidão de óbito nos partia o coração."
Assim, Obergefell, que diz nunca ter pensado em se tornar um ativista pelos direitos dos gays, acabou se tornando um dos principais personagens no debate em torno do casamento entre pessoas do mesmo sexo nos Estados Unidos.
Sua história, porém, não é a única. A ação Obergefell vs. Hodges, que a Suprema Corte analisa a partir desta terça-feira, consolida os casos de 19 homens e 12 mulheres em quatro Estados: Kentucky, Michigan, Ohio e Tennessee.
As enfermeiras April DeBoer e Jayne Rowse, moradoras de um subúrbio de Detroit, em Michigan, iniciaram sua ação não pelo casamento gay, mas pelo direito de que ambas fossem reconhecidas legalmente como mães de seus quatro filhos adotivos, com idades entre 2 e 6 anos.
Cada uma adotou duas crianças, mas as leis de Michigan só permitem a adoção conjunta para casais. Elas esperam poder ser reconhecidas não apenas como um casal, mas como uma família, e planejam adotar uma quinta criança.
Greg Bourke e Michael DeLeon, de Kentucky, se casaram no Canadá em 2004. Cansados de não ter acesso aos mesmos benefícios de casais heterossexuais em seu Estado, entraram com uma ação em 2013 para ter o casamento reconhecido.
Para Pam e Nicole Yorksmith, que moram em Kentucky e trabalham em Ohio, a motivação para entrar na Justiça foi um ataque de tosse e dificuldade para respirar do filho Orion, então com quatro meses.
As duas têm dois filhos, concebidos por inseminação artificial quando decidiram iniciar uma família. Mas quando Pam levou o bebê ao pronto-socorro de um hospital, os médicos exigiram entrar em contato com a mãe biológica, Nicole, antes de prestar atendimento.
Há também o caso de Luke Barlowe e Jimmy Meade, moradores de Kentucky, que se conheceram em 1968 e casaram em 2009, no Estado de Iowa.
Em entrevista à imprensa americana, eles contam que, apesar dos mais de 40 anos juntos, ainda não dão as mãos quando estão em público. Eles dizem esperar que uma decisão favorável possa beneficiar a nova geração.
A decisão da Justiça americana de não acusar formalmente os policias responsáveis pela morte de Michael Brown e de Eric Garner inflamou o debate sobre a desigualdade racial nos Estados Unidos.
Agora, um projeto sobre "o que é ser branco" amplia a polémica, com o objetivo de incluir os cidadãos brancos na discussão.
Neste sábado, milhares protestaram em Washington contra as mortes de negros por policias brancos em circunstâncias polémicas desde 2012, como o jovem Trayvon Martin, de 17 anos, morto por um voluntário de segurança do bairro na Flórida e Tamir Rice, de 12 anos, que foi alvejado por policias porque tinha uma arma de brinquedo.
Outros protestos em cidades como Nova York e Los Angeles exigem um fim ao que se considera um uso desproporcional da força pelos policias de todo o país, em particular contra a população negra.
Muitas pessoas consideram que, apesar dos avanços das últimas décadas, o racismo nos Estados Unidos continua tão presente como há meio século, quando o movimento pelos direitos civis, liderado por Martin Luther King Jr., lutou para acabar com a segregação racial.
Um projeto audiovisual que fala sobre o que significa ser branco no país, que estreou há algumas semanas na TV, colocou mais lenha na fogueira.
O Whiteness Project, do documentarista Whitney Dow, reúne entrevistas com dezenas de americanos brancos – muitos deles de classe média – que falam diante das cameras sobre o seu sentimento de pertença a um grupo racial e sobre como percebem os privilégios que teriam em relação a outras minorias raciais.
As opiniões de alguns dos participantes soaram chocantes e polêmicas, talvez porque não seja comum ouvi-las publicamente.
Uma das mulheres, por exemplo, diz ter medo dos negros pela maneira como eles fazem propostas sexuais a ela. Outro homem diz que hoje são os brancos que sofrem discriminação nos Estados Unidos.
Há também uma jovem que diz que sabe tão bem como os negros o que é ser discriminada, por causa das tatuagens que tem no corpo. E uma outra que gostaria que os brancos se sentissem tão orgulhosos de ser brancos quanto os afrodescendentes se sentem por serem negros.
Muitos dos entrevistados dizem ser contrários a ações afirmativas como cotas para minorias raciais, já que, para eles, tais medidas dão oportunidades a algumas pessoas não por seus próprios méritos, e, sim, por sua cor de pele.
Outros participantes mostram pontos de vista mais moderados, como um jovem que lamenta o fato de não haver uma integração racial maior em Buffalo e uma mulher que diz não se sentir à vontade quando o ambiente em que está é formado apenas por brancos.
Ao fim de cada uma das entrevistas do Whiteness Project são apresentadas estatísticas que mostram até que ponto persistem as divisões e estereótipos raciais nos Estados Unidos, de acordo com o que os participantes do projeto expressam.
Mais de 40% dos brancos americanos acredita que os homens negros são violentos e 75% afirma não ter contato com pessoas negras no seu círculo mais próximo.
Além disso, 60% de brancos de classe média diz que a discriminação contra eles é tão grave quanto a discriminação contra os negros.
E 73% das pessoas diz que não se deve dar "tratamento especial" aos negros para acabar com as desigualdades.
A estreia da primeira parte do projeto na TV aberta americana causou polémica, especialmente nas redes sociais.
Alguns críticos perguntaram até que ponto é necessário escutar pessoas brancas a dizerem, em voz alta, opiniões que podem parecer racistas.
Arielle Newton, colunista do portal The Huffington Post, disse temer que o projeto ajude a perpetuar estereótipos que muitos têm nos Estados Unidos sobre as minorias raciais, por falta de contexto histórico.
"O diálogo entre as raças é importante e tem o benefício de mostrar a perspectiva do outro. Mas essa perspectiva deve ser reforçada com algo de inteligência. (...) Assistindo aos vídeos, tudo o que eu escutei foi um discurso usado contra as minorias, uma vitimização egoísta equivocada e uma defesa até a morte da raça branca", escreveu num artigo.
Os responsáveis pelo projeto defenderam-se, destacando que sua intenção é que "os brancos participem ativamente do debate sobre o papel da raça na sociedade americana", para a qual consideram necessário "levar em conta as ideias que muitos cidadãos têm sobre as questões raciais".
"Com este projeto, eu queria dar a oportunidade aos brancos de refletirem sobre sua identidade racial", disse Whitney Dow, diretor do projeto, à BBC Mundo. Ele enfatiza que nem todas as ideias expressadas pelos participantes são racistas.
Após a recepção controversa do projeto, Dow – que é branco e nas últimas décadas realizou diversos documentários sobre questões raciais junto ao cineasta negro Marco Williams – diz que em entrevistas futuras quer incluir pontos de vista mais diversos.No entanto, ele reitera que seu objetivo é iniciar um debate sobre conceitos de raça que não costumam ser discutidos abertamente."A realidade é que os pontos de vista que são apresentados ali são compartilhados por muitos brancos americanos. Se queremos acabar com o racismo precisamos falar dele e de suas origens. Acho que os negros são conscientes do racismo que existe, mas os brancos, nem tanto", afirma."A maioria dos brancos americanos acham que não têm raça. Eles acham que são os outros que têm raça. Não pode haver uma discussão sobre justiça social e racismo neste país sem que os brancos reconheçam que são uma raça que tem a sua própria experiência."Steven W. Trasher, colunista afro-americano do jornal britânico The Guardian diz que as entrevistas do Whiteness Project são "fascinantes", porque "as pessoas falam de assuntos que, em geral, não se discute"."Elas (as entrevistas) têm valor pela maneira como mostram o privilégio dos brancos e o quão fácil às vezes é dizer certas coisas em público sem pensar nas consequências", disse à BBC Mundo."Além disso, acho que o projeto é valioso porque mostra que o racismo não pode ser atribuído somente a pessoas pobres e sem educação do sul do país, mas a pessoas de todas as origens e condições sociais."Heidi R. Lewis, professora da faculdade Colorado College – onde dá um curso sobre estudos críticos da raça branca – diz que "um dos riscos deste projeto é que os brancos monopolizem a conversa sobre questões raciais".Lewis, que também é afrodescendente, resiste em qualificar o projeto como algo positivo – já que considera que as opiniões expressadas nele já são bastante conhecidas –, mas diz que a intenção do documentário pode ser boa."Até agora parecia que eram os negros que tinham a tarefa de falar dos privilégios dos brancos, mas já é hora que os próprios brancos questionem esses privilégios", afirma.
Um toque de recolher foi imposto na noite desta segunda-feira na cidade americana de Baltimore, em meio a violentos protestos decorrentes da morte de um homem ferido enquanto estava sob custódia da polícia.
Imagens aéreas nocturnas mostravam diversos prédios do centro da cidade (a cerca de 60 km de Washington) em chamas. Mais cedo, dezenas de pessoas entraram em confronto com a polícia, e 15 policiais ficaram feridos e 27 pessoas foram detidas.
Houve também saques em lojas e destruição de viaturas policiais. Escolas e estações de comboio fecharam as suas portas, e eventos desportivos foram cancelados.
O governo de Maryland, onde fica Baltimore, declarou estado de emergência e pediu ajuda à Guarda Nacional diante do recrudescimento da violência.
A violência eclodiu horas depois do funeral de Freddie Gray, jovem negro de 25 anos que havia sido preso a 12 de abril ao fugir da polícia. Ele levava consigo um canivete e foi colocado dentro de um carro policial, mas sofreu uma lesão na espinha e morreu uma semana depois.
As circunstâncias em que ele se feriu estão a ser investigadas pelo Departamento de Justiça. Por enquanto, seis policiais foram suspensos.
A perfeita de Baltimore, Stephanie Rawlings-Blake, disse que há uma diferença entre "protestos pacíficos dos que clamam por justiça" e "bandidos que querem incitar a violência".
"Estamos a empregar todos os recursos possíveis para controlar a situação", afirmou.
Ela ordenou um toque de recolher, durante uma semana, das 22h às 5h.
O presidente dos EUA, Barack Obama, disse que o seu governo oferecerá a assistência necessária a Baltimore.
Os confrontos desta segunda-feira foram os mais violentos nos país desde os distúrbios ocorridos em Ferguson, no Estado americano do Missouri, no ano passado, também decorrentes da morte de um jovem negro, Michael Brown, pela polícia.
O episódio traz novamente à tona o debate sobre a violência policial nos EUA, ante diversos casos de homens negros que morreram após algum tipo de contato com policiais.
Baltimore também é conhecida pelos altos índices de criminalidade. Um comunicado emitido nesta segunda-feira pela polícia local afirmava que a Unidade de Inteligência Criminal da Corporação havia identificado que "membros de diversos gangues se tinham juntado" para atacar os policias.
A tensão eclodiu na cidade após um fim de semana intenso de protestos, nos quais 34 pessoas foram detidas.